Plenário

Secretário cobra recursos para a saúde de Porto Alegre

Ritter defendeu regionalização da saúde para evitar sobrecarga da Capital  Foto: Guilherme Almeida
Ritter defendeu regionalização da saúde para evitar sobrecarga da Capital Foto: Guilherme Almeida (Foto: Guilherme Almeida/CMPA)
A Câmara Municipal de Porto Alegre recebeu, na sessão desta quinta-feira (16/7), o secretário municipal de Saúde, Fernando Ritter. Ele apresentou relatório de gestão da Secretaria, falou sobre o panorama atual da saúde pública na cidade, cobrou repasses do Estado e da União e sugeriu a regionalização da saúde para reduzir a vinda de pacientes do Interior para a Capital, muitas vezes sem necessidade. Ritter lamentou que os recursos exclusivos para a saúde local acabem se difundindo por todo o Estado: "61% dos gastos em saúde pública em Porto Alegre são revertidos para os cidadãos do Interior", informou. 

Ritter disse que Porto Alegre conta com o quarto melhor sistema de saúde do Brasil, é referência para o país nessa área e, principalmente, para os moradores do interior do Rio Grande do Sul. Segundo ele, as pessoas que vêm para a Capital buscam excelência no atendimento de média e alta complexidades nos hospitais. "Mas, às vezes, o papel de Porto Alegre como referência se confunde com o papel do RS na saúde e devemos lembrar que é preciso existir uma distribuição de responsabilidades, com ênfase na descentralização dos serviços", afirmou.

De acordo com o secretário, o panorama atual da saúde pública em Porto Alegre remete a 55% de atendimentos a pessoas do Interior e 45% de moradores da cidade. "Ou seja, atendemos mais pessoas do Interior do que da Capital e isso se deve à falta de regulação de uma descentralização da saúde no Estado, a qual nunca foi efetivada", ressaltou. Para Ritter, a concentração dos pacientes do Interior se deve à falta de polos de atendimento em saúde de média e alta complexidades em outras regiões. 

O secretário defendeu que o governo do Estado regionalize a saúde pública, para que Porto Alegre não tenha que atender um volume tão denso de pessoas. "Muitos cidadãos se deslocam para a Capital em busca de emergência, sendo que Porto Alegre não é referência neste quesito", disse. Para ele, o que se tem visto é a falta de reajuste financeiro e aumento dos gastos do setor. "Os recursos da saúde não estão sendo repassados pelo Estado e pela Federação e, se olharmos a participação de Porto Alegre na rede de saúde no Rio Grande do Sul, é preciso disponibilizar muito mais recursos para atendermos as demandas", destacou. 

Como atestou Ritter, as consultas de alta complexidade chegam a 35% para Porto Alegre e 65% para o Interior, mostrando a disparidade de atendimento entre as regiões. "Queremos continuar atendendo os cidadãos do Interior, mas, para isso, é preciso que o governo estadual repasse o devido valor, o qual seria em torno de R$ 25 milhões, para construirmos mais unidades de saúde com qualidade de serviço", afirmou. O secretário informou que já conversou com representantes do Estado para que os repasses da saúde sejam aplicados, no entanto não obteve resposta. "O grande problema é que a conta dos gastos usados no atendimento das pessoas que vêm do Interior fica aqui em Porto Alegre e, com isso, não conseguimos nos comprometer com uma saúde de qualidade", disse. 

Ritter afirmou ainda que a situação do atendimento em saúde em Porto Alegre piorou desde janeiro de 2015, com o fechamento de serviços no Interior, como os hospitais de Cruz Alta, Santa Maria e Guaíba. "Não existe planejamento que aguente a falta de recursos e a sobrecarga dos serviços", lembrou. Ele reforçou que os valores devidos não são exclusivos do governo estadual atual, mas também do governo passado, e a soma dos valores devidos chega a R$ 60 milhões, no período de 2014 a 2015. "Estamos a ponto de ver um colapso no Sistema Único de Saúde (SUS) e, para que isto não aconteça, queremos uma reorganização dos recursos destinados ao município de Porto Alegre", concluiu. 

Vereadores comentaram o pronunciamento do secretário municipal da Saúde:

TÉCNICOS - Fernanda Melchionna (PSOL) destacou os problemas enfrentados na área da saúde pública. "Faltam, no mínimo, 120 técnicos nos postos e hospitais de Porto Alegre e estas pessoas se viram como podem para suprir a falta de médicos e equipe capacitada." Segundo a vereadora, o cenário atual da saúde no Estado é classificado como caos. "Estamos enfrentando diversos problemas. São demissões e congelamento de repasses aos postos do Interior, o que gera maior demanda de atendimento na Capital." Conforme ressaltou, aproximadamente 50% do orçamento é direcionado para pagar uma dívida que nunca foi esclarecida. "Até quando vamos viver nesta situação? Algo tão importante como a saúde sendo tratada com tamanho desleixo." (CPA)

PROBLEMAS - Carlos Casartelli (PTB) disse: "Estamos aqui falando de vidas, que é o direito mais importante que temos. Não se trata de nenhuma crítica, mas é um fato a realidade em que vivemos hoje", destacou o vereador, referindo-se à situação da saúde pública no país. Conforme Casartelli, a verba direcionada para a área da saúde deveria ser financiada em 50% pela União, 25% pelo Estado e 25% pelo Município. (CPA)

DIFICULDADE - Sofia Cavedon (PT) falou sobre as grandes dificuldades enfrentadas na saúde de Porto Alegre. "Falta de equipamentos, médicos, técnicos, e, principalmente, de estrutura assombram diariamente aqueles que trabalham e necessitam do serviço público de saúde na Capital." Segundo a vereadora, a falta de compromisso e respeito são um dos principais fatores da crise que o Estado vem enfrentando. "Quero dizer que o movimento da prefeitura e do governo é fundamental para que comecemos a levantar desta grande queda." (CPA)

Texto: Juliana Demarco (estagiária de Jornalismo)
          Clara Porto Alegre (estagiária de Jornalismo)
Edição: Claudete Barcellos (reg. prof. 6481)