Secretário promete atenção especial a escalas do HPS
O secretário municipal de Saúde, Carlos Casartelli, comprometeu-se, na noite desta quarta-feira (31/8), em reunião da Comissão de Saúde e Meio Ambiente (Cosmam) da Câmara Municipal de Porto Alegre, a avaliar, caso a caso, as escalas de plantões médicos no Hospital de Pronto Socorro (HPS). A promessa foi feita frente à apreensão dos médicos presentes à reunião, que temem dificuldades para manter o atendimento 24 horas em todas as áreas do HPS após a implantação da nova lei de cargos e salários.
Casartelli contou que tem despachado do HPS em alguns dias da semana para facilitar o recebimento das demandas. Ontem mesmo, segundo informou, encaminhou o pedido de nomeação de mais quatro cirurgiões gerais. Ele lembrou que a nova lei, aprovada neste ano pela Câmara, altera as normas de cargos e salários dos médicos, estabelecendo regimes de 20, 30 e 40 horas, este com dois tipos: tempo integral (RTI) ou dedicação esclusiva (RDE). Recordou também que, pela lei, os médicos municipais terão de optar por um dos regimes. As horas trabalhadas serão registradas em ponto eletrônico a partir desta quinta-feira (1º/9). A lei, de acordo com Casartelli, ainda cria a categoria de médico especialista, além da categoria de clínico geral.
Apreensão
O diretor do HPS, Júlio Ferreira, relatou que os médicos estão apreensivos com a implantação do ponto eletrônico já nesta quinta-feira, pois grande parte ainda não formalizou a migração para um dos novos regimes de trabalho. Ninguém é contra o ponto, mas temem problemas de gestão, afirmou. Há áreas com muitas trocas de plantão. Conforme Ferreira, há dúvidas sobre a nova lei que precisam ser avaliadas.
O diretor técnico do HPS, Faustino Torres de Almeida, o anestesista Márcio Pizzatto e o presidente da Cosmam, vereador Dr. Thiago Duarte (PDT), sugeriram que o Executivo adie a implantação do ponto eletrônico. Sou a favor do ponto, mas não de imediato; tem de haver uma fase de adaptação, afirmou Almeida. De acordo com o médico, não está prevista no projeto uma escala suplementar, e o temor é de que, com as mudanças de regimes, haja brechas no atendimento. Já existem dificuldades para compor as escalas, e as dobras de turno estão se multiplicando, informou. Conforme Almeida, a apreensão aumenta devido à sabida morosidade burocrática para a recomposição de quadros no serviço público.
Lei autoaplicável
O secretário Casartelli informou que não há como adiar a implantação do ponto eletrônico porque a nova lei é auto-aplicável, ou seja, dispensa regulamentação. O único item que precisa de regulamentação, segundo ele, é a mudança de Gratificação de Incentivo Técnico (GIT) para Gratificação de Incentivo Médico (GIM). Para mudar isso, teria de acabar com a lei, enfatizou.
A secretária-adjunta da Secretaria Municipal de Administração (SMA), Rita Eloy, presente à reunião, garantiu que os médicos que ainda não formalizaram sua opção de regime de trabalho não serão prejudicados com a aplicação do ponto eletrônico, pois o controle também será feito de forma manual. Rita disse que a secretaria está aberta, via e-mail ou pelo site, a sanar dúvidas. Ela recomendou que os médicos só façam essa solicitação que pode ser encaminhada no próprio RH dos hospitais depois de esclarecerem as dúvidas. Rita afirmou que a lei está disponível no site da prefeitura desde que foi aprovada, no início do ano. Ainda informou que o ponto eletrônico é um projeto piloto passível de ajustes, mas que foi implantado com sucesso no Hospital de Clínicas e em Canoas.
O secretário Casartelli reiterou a informação de que os médicos não serão prejudicados pelo ponto eletrônico, pois há o banco de horas previsto pela lei. Como somos estatutários essas horas não vencem, disse Podemos acumular 24 horas para mais ou para menos.
Gratificação
O diretor do Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (Simers), Fábio Gatti, cobrou o aumento da gratificação das Unidades Básicas de Saúde, que não foi prevista na nova lei. O vice-presidente do Simers, Jorge Eltz, disse que, com a nova lei, tornou-se mais vantajoso ter dois contratos de 20 horas em duas instituições do que um de 30, por exemplo, o que poderá gerar dificuldades no fechamento das escalas.
Sobre a demanda do Simers, Casartelli anunciou que já está na Câmara Municipal um projeto que cria uma gratificação de 50% sobre o salário-base para os médicos. Nos primeiros seis meses, todos irão ganhar a mesma gratificação mensal integralmente. Após serão concedidas conforme o atendimento de metas de qualidade, exigidas pelo Ministério da Saúde.
Sugestões
O vereador Dr. Raul Torelly (PMDB) frisou a importância de a Câmara continuar fiscalizando e avaliando os ajustes da nova lei. Sugeriu que, dentro de 30 dias, a Cosmam promova mais uma reunião com todas as partes envolvidas para manter o diálogo e fazer avaliações. Ele lembrou que a função da Câmara é que as coisas fiquem o melhor possível para todos, trazendo mais qualidade de vida para as pessoas.
O vereador Aldacir Oliboni (PT) propôs que seja criada uma comissão permanente para analisar as escalas do HPS. A lei tem de ser aplicada, mas amanhã pode ser construído um acordo, disse.
Dr. Thiago afirmou que, mesmo que precise de ajustes, a lei dos médicos foi um avanço. Na sua opinião, a lei deveria ter sido feita em 2003, quando houve a maior greve de médicos da Capital. Também ressaltou a participação do secretário municipal da Saúde em todo o processo. Não se pode tirar o mérito de Casartelli; ele tem estado muito presente no HPS, declarou. Dr. Thiago reafirmou a intenção do secretário em analisar as escalas dos médicos do HPS e lembrou que a Câmara está à disposição na busca de soluções, assim como a SMA.
Claudete Barcellos (reg. prof. 6481)