Comitê de Segurança

Uribe Rocha: “A violência é a manifestação dos problemas da sociedade”

Antropólogo colombiano palestrou na Câmara Municipal de Porto Alegre

  • Reunião do Comitê Permanente de Segurança Metropolitano, com palestra do diretor da oficina de resiliência de Medellín - Colômbia, Santiago Uribe Rocha.
    Uribe Rocha falou de Medellín, que já foi considerada a cidade mais violenta do mundo (Foto: Ederson Nunes/CMPA)
  • Reunião do Comitê Permanente de Segurança Metropolitano, com palestra do diretor da oficina de resiliência de Medellín - Colômbia, Santiago Uribe Rocha. Na foto, o palestrante
    O público, autoridades e entidades marcaram presença na palestra do diretor de Resiliência (Foto: Ederson Nunes/CMPA)

Na noite desta quarta-feira (13/7), a terceira reunião do Comitê Permanente de Segurança Metropolitano, realizada no Plenário Ana Terra, da Câmara Municipal de Porto Alegre, recebeu o diretor da Oficina de Resiliência de Medellín, Santiago Uribe Rocha. O antropólogo falou sobre estratégias de resiliência e ações realizadas na cidade colombiana, que, no início dos anos 1990, assolada pelo narcotráfico, era tida como a mais violenta do mundo. "Uma das primeiras coisas que aprendemos em Medellín é que, a cada segundo que passa, uma vida se perde em favelas ou lugares com focos de criminalidade”, disse o palestrante.

Durante toda a palestra, Uribe Rocha frisou que é importante planejar, porém é preciso tomar medidas efetivas, pensando em objetivos possíveis de serem alcançados em prol da redução da criminalidade. Ele afirmou que, tomando como exemplo sua cidade, o primeiro passo é realizar um diagnóstico para entender as razões da violência. “Empresários, representantes das igrejas, donas de casa, líderes políticos, todos devem participar e opinar sobre a situação em que a cidade se encontra. Este Comitê não seguirá vivo sem que a comunidade o acompanhe constantemente”, ressaltou. Segundo Uribe Rocha, “a violência não é o problema, é apenas a manifestação de um ou de vários problemas da sociedade”.

Processo de transformação

“O caminho é difícil e tortuoso, por isso é necessário um acordo entre todos os setores da sociedade”, disse o palestrante, apresentando o plano aplicado em Medellín, centrado em cinco eixos de atuação – escola, saúde, segurança, emprego e sustentabilidade. “Estabelecemos uma discussão com toda a sociedade, inspirados, inclusive, no Orçamento Participativo de Porto Alegre, para entender suas demandas. E a mudança se fez a partir das periferias, onde jamais houvera a presença do Estado”, relatou, exaltando a construção de centros de educação e espaços de convivência para crianças e adolescentes.

Na sequência, o antropólogo ilustrou a forma como foram obtidos os recursos necessários para os projetos aplicados. “Medellín é proprietária de 44 empresas públicas, que são geridas como se fossem privadas. Assim, elas geram um lucro que é revertido diretamente para o investimento social. Por fim, ele defendeu o diálogo como “pedra inicial” do caminho de mudança. “Formando indivíduos pacíficos, teremos famílias pacíficas e uma sociedade pacífica. Este é o roteiro para chegar na Porto Alegre que queremos."

Ação Conjunta 

O presidente da Câmara Municipal, Cassio Trogildo (PTB), destacou que o trabalho realizado por Uribe serve de inspiração ao Comitê. “Por meio dele, entendemos que é possível melhorar as condições de segurança nos países em desenvolvimento”, afirmou. O vereador também elogiou a contratação de novos policiais feita recentemente, enfatizando que espera que seja apenas uma das medidas de um planejamento de médio e longo prazos. “É preciso nos reinventarmos e investir em ações que façam mais com menos”, falou Trogildo.

Na mesma linha, o conselheiro-presidente da Agência Estadual de Regulação dos Serviços Públicos Delegados do Rio Grande do Sul (Agergs), Alcebíades Santini, corroborou as inspirações trazidas pelo palestrante. “Não precisamos procurar culpados, mas ser inteligentes e encontrar soluções, convocando toda a sociedade civil para pensar políticas públicas”. Santini disse esperar que o exemplo colombiano “sirva como o despertar de uma nova sociedade”.

Representando a Assembleia Legislativa, o deputado Maurício Dziedricki lembrou que a capital gaúcha é, hoje, uma das 50 cidades mais violentas do mundo e sugeriu um trabalho multi-setorial. “Temos que combater a criminalidade não apenas com o uso da força, mas construindo pautas públicas que contribuam para a prevenção da mesma, o que envolve diversos setores”, sugeriu. Já a secretária estadual do Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, Ana Pellini, disse que é possível tirar muitos bons exemplos da explanação de Uribe. “O Brasil e a Colômbia têm muita coisa em comum, e a troca de experiências é salutar”, assegurou.

O Comitê

Desde março, o Comitê Permanente de Segurança Metropolitano, presidido pelo vereador Cassio Trogildo, vem desenvolvendo reuniões periódicas, com o objetivo de traçar um diagnóstico e apresentar um plano de segurança integrado para toda a Região Metropolitana. Além do Parlamento Metropolitano da Grande Porto Alegre, prefeituras, Câmaras Municipais da Região Metropolitana e universidades gaúchas, o Comitê reúne como parceiros signatários o Fórum Estadual de Defesa do Consumidor (FEDC), a Associação dos Juízes do RS (Ajuris), a Associação dos Delegados de Polícia do RS (Asdep), a Associação dos Comissários de Polícia (ACP), a Associação Beneficente Antonio Mendes Filho (Abamf) e a Associação dos Sargentos, Subtenentes e Tenentes da Brigada Militar e Bombeiros do RS (ASSTBM).

Também participaram da reunião os secretários municipais adjuntos de Segurança Pública, Ricardo Gomes (representando o governo do Município), e de Governança Local, Carlos Siegle; o presidente da Abamf, Leonel Lucas, e o representante da ASSTBM, Dagoberto Valteman, além dos vereadores Dr. Goulart (PTB), Lourdes Sprenger (PMDB) e Delegado Cleiton (PDT).

Texto: Paulo Egidio (estagiário de Jornalismo)
Edição: Claudete Barcellos (reg. prof. 6481)