Cosmam

Vereadores debatem promoção à vida e prevenção ao suicídio

Para especialistas, é importante identificar sintomas que possam evoluir para o risco à vida.

  • Cosmam realiza reunião sobre Promoção da Vida e Prevenção ao Suicídio. Na Foto: 
Psicóloga, Sandra Kurtz
    Psicóloga Sandra Kurtz (d) fez um histórico do Programa Viva (Foto: Esteban Duarte/CMPA)
  • Cosmam realiza reunião sobre Promoção da Vida e Prevenção ao Suicídio. Na Foto: Major Médica, Denise Gomes
    Denise Gomes disse que a BM é chamada quando pessoas ameaçam a própria vida (Foto: Esteban Duarte/CMPA)

A Promoção da Vida e a Prevenção ao Suicídio, com ênfase à campanha do Setembro Amarelo, foi o tema da reunião promovida na manhã desta terça-feira 918/10) pela Comissão de Saúde e Meio Ambiente (Cosmam) da Câmara Municipal de Porto Alegre. Presidida pela vereadora Lourdes Sprenger (PMDB), a reunião contou com a presença de representantes de órgãos da saúde, segurança e de organizações não governamentais em nível municipal e estadual. De acordo com a psiquiatra Roberta Rossi Grudtner, representante do Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (Simers), a cada dez mortes por suicídio, nove poderiam ter sido evitadas a partir de ações preventivas, “baseadas na identificação de evidências e campanhas de conscientização”. Ela ressaltou ainda que a maioria dos casos estão relacionados a doenças como a depressão, alcoolismo, drogadição, bipolaridade, esquizofrenia e outros transtornos de personalidade.

Marilise Fraga de Souza, especialista em saúde mental da Secretaria Estadual da Saúde, disse que ao longo de 2016, foram realizados quatro seminários para a capacitação de profissionais da saúde, preparando-os para identificar e encaminhar casos de tentativas de suicídios. O objetivo, segundo ela, é o de qualificar os atendimentos. Andréia Volkmer, coordenadora do Núcleo de Doenças e Agravos não Transmissíveis, da Secretaria Estadual da Saúde, destacou que o trabalho de prevenção tem avançado a partir da criação de um grupo de trabalho que, em breve, deverá se transformar em um comitê Inter-setorial. “Desde 2011 é compulsório o preenchimento de uma ficha de notificações dos casos de violência que entram por qualquer local de atendimento em saúde e, entre 2014 e 2015, houve um aumento significativo do preenchimento desse documento, o que permite que novas estratégias possam elaboradas”, declarou.

Presidente da Junta Médica da Brigada Militar, a major Denise Alves Riambau Gomes, apresentou um dado relativo ao elevado número de casos na corporação. “Isso é um fenômeno mundial e acontece devido ao estresse e ao acesso facilitado aos meios para a autoviolência”, ressaltou. Conforme a oficial da Brigada, a instituição também está inserida no debate em outras esferas da sociedade. “Somos chamados em várias situações em que pessoas ameaçam contra a própria vida”, disse.

Rita Buttes, assessora técnica da Gerência de Políticas Públicas da Secretaria Municipal da Saúde (SMS), afirmou que há uma preocupação quanto à qualificação da identificação e monitoramento dos casos de lesões autoprovocadas. Segundo ela, o monitoramento não se dá apenas durante o atendimento nas unidades de saúde, mas também após a saída do usuário do sistema. Também que não é um caso isolado do setor de saúde, mas de outros órgãos e de toda a sociedade. Lembrou que a SMS participa do grupo de trabalho, criado em nível estadual, e está presente nas ações para dar visibilidade a ações como a do Setembro Amarelo.

Sinais de alerta

Carlos Pacheco, coordenador de Políticas Públicas da Secretaria Municipal da Saúde, disse que é preciso falar da tristeza e ultrapassar os bloqueios sociais e culturais que levam muitas pessoas à solidão e ao sofrimento. Segundo ele, é preciso capacitar agentes de saúde e comunitários para a identificação de sintomas, para que percebam pequenos sinais que possam evoluir para um transtorno de personalidade e o risco à vida das pessoas. Vitor Alfredo Stumpf, médico pediatra aposentado e voluntário na Associação em Defesa da Saúde Mental Integral (Adesmi), relatou que é comum o caso de ameaça à própria vida entre crianças, “na maioria das vezes provocados pela rejeição familiar ou bullying na escola”. Lembrou que um problema é a falta de recursos para o tratamento da saúde mental.

Sandra Kurtz, psicóloga da SMS, fez um histórico do Programa Viva, criado em 2006, que estabeleceu o preenchimento da ficha de notificação dos casos de violência que ingressam no sistema de saúde da capital. “Mesmo tornado compulsório o preenchimento, a partir de 2011, que elevou em mais de 50% as notificações entre 2014 (165 casos) e 2015 (359 casos), ainda é preciso conscientizar os profissionais para a importância desses dados à vida das pessoas, pois quem tenta (o suicídio) não tenta apenas uma vez”, assinalou. Ainda ressaltou que, entre os homens, o uso de arma de fogo e enforcamento é o mais comum, sendo o uso de medicamentos a preferência das mulheres.

Liziane Eberle, vice-coordenadora regional gaúcha do Centro de Valorização da Vida (CVV), disse que a organização trabalha voluntariamente pela redução de danos, por meio do convencimento à vida de pessoas que estão em depressão profunda e procuram o atendimento telefônico e os outros meios eletrônicos disponíveis, como chats e skype. Ela recordou que o CVV existe no país desde 1962 e no Rio Grande do Sul atua há 42 anos. Atualmente possui seis postos e, até o final do ano, deverá ampliar para nove. Liziane colocou à disposição o número telefônico 188, gratuito para linha fixa e celular, que funciona nas 24 horas do dia. Por fim, salientou que o Setembro Amarelo foi criado em 2014, a partir da data do Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio, transcorrido em 10 de setembro, e da cor amarela, que a exemplo dos semáforos, sinaliza a atenção.

Participaram, além da presidente da Cosmam, vereadora Lourdes Sprenger (PMDB) - que informou aos presentes a inclusão das notas taquigráficas da reunião no relatório anual da comissão -, os vereadores Dr.Goulart, Mário Manfro e Paulo Brum, todos do PTB.


Texto: Milton Gerson (reg. prof. 6539)

Edição: Carlos Scomazzon (reg. prof. 7400)