Empresas de desmanche têm até agosto de 2015 para se regularizarem

A situação da Lei dos Desmanches e sua relação com o roubo de carros na Capital foi assunto da reunião realizada, na manhã desta quinta-feira (18/9), pela Comissão de Defesa do Consumidor, Direitos Humanos e Segurança Urbana (Cedecondh) da Câmara Municipal de Porto Alegre. A Lei federal 12.977/14 regula e disciplina a desmontagem de veículos e define que a atividade somente poderá ser realizada por empresa registrada perante o órgão executivo de trânsito do Estado ou do Distrito Federal. A iniciativa é uma tentativa de diminuir o número de roubos de carros. Conforme a lei, as empresas têm até o dia 20 de agosto de 2015 para se regularizarem. No entanto, em Porto Alegre, a norma esbarra em uma série de problemas administrativos e estruturais.
Cadastramento
As empresas que não estiverem devidamente regularizadas até o dia 20 de agosto de 2015 estarão atuando irregularmente. Somente quem estiver cadastrado poderá desmontar, comercializar peças usadas e materiais oriundos de sucata. O Detran-RS oferece o serviço de cadastramento e o alvará de funcionamento. Entre as etapas do processo está a apresentação de documentos da empresa, treinamento para utilização de sistema informatizado, disponibilização de certificado e o início do cadastro de peças.
De acordo com o chefe de Divisão do Detran-RS, Adriano Saraiva, atualmente, 316 empresas no Estado (43 em Porto Alegre) procuraram o Detran e encontram-se em processo de cadastramento; Dessas, cerca de 160 (três em Porto Alegre) estão com documentação completa e passaram por treinamento; e 74 (três em Porto Alegre) estão com o sistema implantado.
Conforme Saraiva, a ideia é acompanhar as empresas que já estão operando e credenciar empresas que atenderem aos critérios. Nós também pretendemos instalar sistemas de nota fiscal eletrônica e publicar decreto de exclusividade de arremate em leilões para esses estabelecimentos, disse.
Dificuldades
A Polícia Civil, em parceria com o Detran-RS, elaborou normas para legalização de desmanches. No entanto, para que o processo aconteça precisa passar pela Secretaria Municipal do Meio Ambiente (Smam). Para o supervisor de Meio Ambiente da Smam, Mauro Gomes, a principal regra é o respeito ao Plano Diretor da Capital. Como Porto Alegre é uma cidade de comércio e serviços, o plano é bastante exigente quanto às regras ambientais. De acordo com ele, a legislação proíbe que os órgãos ambientais e a Smic liberem locais que causem impacto de ambiente na vizinhança. Outro fator é a necessidade de piso impermeável para que o descarte de fluídos dos veículos não contamine o solo. Há grande resistência por parte dos donos de desmanches devido ao alto custo dessas mudanças estruturais, afirmou Gomes.
A dificuldade em conseguir licenças gera um grande problema para a Lei de regulamentação dos desmanches, pois, uma vez que as empresas trabalham em locais que não são permitidos, querem se legalizar e acabam não obtendo êxito, terminando por trabalharem na clandestinidade e não atingindo o objetivo proposto pela Lei. Gomes afirma que, se o Plano Diretor não permite atividades em um certo local, a legislação deve ser respeitada. No entanto, várias empresas continuam abertas e descumprindo a Lei, o que resulta em um ciclo de erros que a administração não dá conta de resolver.
Uma vez que a Smam dificulta as licenças ambientais, estamos permitindo a ilegalidade, afirmou a vereadora Mônica Leal. De acordo com ela, faltam discussões e resultados. O Plano Diretor foi renovado em 2011, o que faltou para que essa questão fosse levada em conta?, questionou. O órgão ambiental não está aí para resolver os problemas do mundo. Tem só que estar dentro das leis. Se atende (a lei), é licenciado; do contrário, não obtém licença., destacou Gomes.
Falta de estrutura
Os profissionais do IGP convivem diariamente com a falta de estrutura. A perícia papiloscópica em veículos recuperados de objeto de furto, roubo ou dano é feito no local. Lá são realizados dois tipos de exames em carros: descrição e coleta de materiais. Contudo, como afirma a papiloscopista do IGP, Ediméia Viana de Oliveira, o trabalho feito no local acaba prejudicado. Um dos problemas é que muitos policiais mexem no carro sem luvas, deixam digitais e dificultam o serviço, afirmou. Outro problema relatada por Ediméia ocorre quando chove. Quando chove não se pode fazer perícia. Meu sonho é que todos os depósitos tivessem cobertura e pudéssemos fazer um trabalho mais efetivo, ressaltou. A falta de estrutura causa demora na verificação e acúmulo de veículos. Acabamos só fazendo a verificação de danos. Não temos outra alternativa.
Para o delegado de Roubos da Polícia Civil, Juliano Ferreira, deve haver reestruturação das delegacias e melhora na qualidade das provas para investigação policial. Precisamos de uma estrutura para manter os carros, é importante para a resolução de crimes de roubos, disse.
Encaminhamento
Como encaminhamento, o presidente da comissão, vereador Alberto Kopittke (PT), propôs uma reunião com a prefeitura. De acordo com ele, a prefeitura tem um grande papel no combate ao roubo e furto de carros na cidade e deve criar um grupo de trabalho para estabelecer prazos e metas para que a cidade regularize ou feche estabelecimentos. Muitos desmanches ilegais acobertam o crime por baixo dos olhos da prefeitura. Cabe a ela fazer a fiscalização administrativa e fechar os estabelecimentos que não têm alvará. Não adianta ficarmos pedindo para a Brigada Militar ou para a Polícia Civil, se a prefeitura não está fazendo o seu trabalho. Sem os documentos da prefeitura, o próprio Detran não consegue cadastrar essas empresas no sistema estadual.
Também estiveram presentes na reunião o vereador Mário Fraga (PDT) e o perito criminal do IGP, Antônio Petersen Xavier.
Texto: Thamiriz Amado (estagiária de Jornalismo)
Edição: Carlos Scomazzon (reg. prof. 7400)