Investigação

Quatro jornalistas prestam depoimento na CPI da Invasão

Furquim defendeu o protesto, mas lamentou agressão a fotógrafo  Foto: Elson Sempé Pedroso
Furquim defendeu o protesto, mas lamentou agressão a fotógrafo Foto: Elson Sempé Pedroso
Vereadores que integram a CPI da Invasão da Câmara Municipal de Porto Alegre colheram o depoimento de quatro jornalistas na manhã desta quinta-feira (28/11). O relator da comissão, Márcio Bins Ely (PDT), questionou a todos acerca das impressões relativas à ofensa à liberdade de imprensa e expressão durante a invasão do Legislativo, ocorrida de 10 a 18 de julho de 2013.

Sul 21
 
O primeiro a falar foi o fotógrafo Ramiro Furquim, do jornal eletrônico Sul 21. Ele afirmou ter visto vários jornalistas dentro da Câmara. Mesmo assim, reconheceu que alguns veículos de imprensa foram impedidos de entrar. “Sei que a Zero Hora e a RBS não conseguiram entrar. Na verdade, entraram e foram hostilizados, mas ninguém bateu neles. Tentei interceder a respeito de uma repórter do Correio do Povo, mas o pessoal não concordou. Eles fizeram o credenciamento deles.”

Furquim comentou o episódio envolvendo Elson Sempé Pedroso, fotógrafo da Câmara. “Não vi a agressão, mas vi as imagens. Isso foi lamentável, mas acho que foi um fato isolado. Conversei com os ativistas sobre o modo de tratar a imprensa. Disse que isso não era interessante para o bom debate que eles estavam fazendo a respeito do transporte público”, salientou.

Sobre possíveis depredações do patrimônio, Furquim contou que não viu nada pichado ou quebrado. “Vi um pessoal muito organizado e com boa vontade de deixar tudo como estava antes da ocupação. Aproveito para dizer que considero que foi uma ocupação, dado o contexto das manifestações, da luta pelo passe livre e pelos esclarecimentos sobre o valor da passagem de ônibus. Chamo de ocupação porque 30 mil pessoas saíram às ruas de Porto Alegre e esta Casa sequer cogitou convidá-los a entrar aqui.”

Zero Hora
 
Acompanhada por uma advogada do Grupo RBS, a repórter fotográfica Adriana Franciosi, de Zero Hora, se limitou a falar sobre fatos, sem emitir opiniões pessoais. “Estava mandando fotos para o jornal quando os vereadores resolveram sentar no chão para negociar com os manifestantes. Até aquele momento todos os veículos estavam cobrindo normalmente. Foi quando os manifestantes começaram a gritar contra a RBS TV e expulsaram, com empurrões, o cinegrafista e também a repórter, que foram colocados para fora. Fotografei tudo isso.”

Adriana lembrou que a repórter expulsa chegou a chorar. “Ela foi cercada por cerca de sete pessoas que passaram a hostilizá-la por ela ser da Zero Hora. Ela tentou dialogar, de uma forma inocente. Informou o ocorrido ao editor, que determinou que todos saíssem do local. No dia seguinte, tentamos entrar e fomos impedidos por um grupo que estava na porta”, relatou, antes de também prestar solidariedade ao colega Sempé.

Rádio Guaíba
 
O repórter Gabriel Jacobsen, da Rádio Guaíba, informou que teve pequena participação na cobertura dos fatos. “Foi numa única oportunidade e tive livre acesso por todas as dependências da Casa. Na porta do plenário, me disseram que não estavam aceitando a entrada da grande mídia, mas fui tratado cordialmente”, garantiu.

Jacobsen relativizou a situação. “É bastante comum aos jornalistas não terem acesso a todas as salas, a todas as informações. Isso é normal na vida dos jornalistas. Dessa vez, não houve uma assessoria, como há em outros casos.” Antes de terminar, pediu para fazer um comentário. “Sou usuário de ônibus e acredito que não teríamos esta CPI se houvesse o mínimo de respeito a quem usa o transporte coletivo.”
 
Fotografia da Câmara
 
O último a falar foi Leonardo Contursi, fotógrafo da Câmara. Ressaltou que trabalha há 12 anos na Casa e que, pela primeira vez, teve o direito constitucional de trabalhar como jornalista impedido. “Isso aconteceu quando cheguei de carro e me identifiquei como jornalista da Câmara. Eles não me deixaram entrar”, disse. “Já acompanhei outras invasões, mas nunca tinha acontecido isso antes. Me senti humilhado”, afirmou.

Contursi salientou que também sofreu assédio moral quando os manifestantes fizeram a leitura de um manifesto. “Sofri pressão para não fotografar. Meu trabalho foi prejudicado, pois me senti acuado e com medo de ser agredido, como aconteceu com o Sempé”. Disse que outros colegas também tinham medo de serem agredidos. Relatou, ainda, ter sentido cheiro de maconha.

Além do relator, também estiveram presentes o presidente da CPI, Reginaldo Pujol (DEM), e os vereadores Alceu Brasinha (PTB), João Carlos Nedel (PP), Luiza Neves (PDT), Paulinho Motorista (PSB), Tarciso Flecha Negra (PSD) e Valter Nagelstein (PMDB).

Texto: Maurício Macedo (reg. prof. 9532)
Edição: Claudete Barcellos (reg. prof. 6481)