Telefônicos criticam serviços e más condições de trabalho
A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Telefonia que funciona na Câmara Municipal de Porto Alegre recebeu, nesta quinta-feira (26/9), o diretor da Federação Interestadual dos Trabalhadores em Telecomunicações (Fittel) Juan José Rodrigues Sanchez e o diretor do Sindicato dos Trabalhadores em Telecomunicações (Sinttel/RS) Marcone Santana do Nascimento. Eles criticaram a precarização das condições de trabalho, do atendimento aos usuários e dos serviços prestados pelas empresas de telefonia, além da atuação da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). Também pediram que a Câmara da Capital se junte à luta para a criação de uma CPI da Telefonia no Congresso.
Sanchez disse que os serviços de telefonia pioraram muito devido à privatização ocorrida na década de 90, à excessiva terceirização e à falta de fiscalização efetiva do setor por parte da Anatel. Cantavam que os serviços seriam melhores, as tarifas mais baixas e que todos teriam acesso, lamentou. Não defendemos a reestatização, mas que o Estado intervenha no setor porque a telefonia é um alicerce de desenvolvimento e cidadania.
Na opinião de Sanchez, o Brasil deveria criar uma empresa pública de telefonia para fazer frente às operadoras privadas. Contou que os governos de países como Inglaterra, Itália e Espanha mantiveram o controle do setor. No Uruguai, ficou estabelecido que a telefonia permaneceria nas mãos do Estado, exemplificou. Mas no Brasil não tem isso. A seu ver, na esteira da total privatização surgiu a exploração do usuário e do trabalhador por meio de terceirização. Conseguimos frear um pouco isso no lado do trabalhador, mas veio a precarização do trabalho.
Em meio à atual situação, de acordo com Sanchez, há a inoperância da Anatel, que teria se transformado em um balcão de negócios. O diretor da Fittel sugeriu que a CPI chame a Anatel para prestar esclarecimentos e para que venha à tona o porque de as operadoras a dominarem. Ele enfatizou a necessidade de uma CPI da Telefonia no Congresso para que investigue, denuncie e traga as mazelas dessas privatizações muito mal feitas.
Menores aprendizes
O diretor do Sinttel Marcone do Nascimento disse que são péssimas e extenuantes as condições de trabalho e enorme a pressão sobre os trabalhadores das operadoras e terceirizadas. Informou que é funcionário de callcenter há 10 anos, portanto presenciou o declínio da situação. São empresas de moer gente, lamentou. Pagam mal, muitas vezes menos que o salário mínimo, as tarefas aumentaram e os benefícios foram reduzidos. De acordo com ele, a jornada nos callcenters é de seis horas, mas os funcionários - acomodados em nichos e com fones de ouvido - não param um minuto. "Antes eram cerca de 60 ligações a cada turno, agora são mais de 150, em média, disse. Começaram a cobrar até tempo de banheiro."
Devido à sobrecarga de trabalho, há muitos funcionários doentes, segundo Nascimento, inclusive adolescentes - os chamados menores aprendizes. O diretor sugeriu que a CPI faça uma consulta à Previdência para constatar a quantidade de casos de teleoperadores afastados por motivo de saúde. Temos de bater nessa questão: há até jovens de 15, 16 e 17 anos adoecendo nesse trabalho repetitivo, em computadores com várias telas e fones de ouvido por várias horas, frisou.
O diretor do Sinttel apontou ainda as dificuldades enfrentadas pelos usuários acarretadas pelas terceirizações. O cliente padece, afirmou. Como as empresas não querem se comunicar, viram as costas para ele e direcionam todos os serviços para o callcenter. As lojas são franqueadas e não podem resolver todos os serviços. Na sua opinião, o cliente tem o direito de escolher como quer ser atendido: em loja, na Internet ou pelo telefone. Tem que ter atendimento direto e não terceirizado.
Nascimento reiterou a necessidade de a CPI da Capital promover um debate com a presença de representantes da Anatel e dos trabalhadores. Segundo ele, há empresas que terceirizaram todos os serviços, dessa forma não têm como oferecer um bom atendimento. É importante a presença da Anatel. Como ela está fazendo a fiscalização?, indagou, frisando que a agência deve uma satisfação para a sociedade.
Dívida com o erário
O presidente da CPI, vereador Clàudio Janta (PDT), disse que existem empresas de telefonia que devem muito ao erário, especialmente ao BNDES. Lembrou que o serviço é uma concessão pública federal. Se uma empresa pequena não paga uma dívida, pode até perder o CNPJ, afirmou. Essas operadoras devem milhões, fica por isso mesmo, e prestam um serviço de péssima qualidade.
A reunião da CPI contou ainda com as presenças dos vereadores Lourdes Sprenger (PMDB), Elizandro Sabino (PTB), Fernanda Melchionna (PSOL), Mario Manfro (PSDB), Delegado Cleiton (PDT), Márcio Bins Ely (PDT) e Jussara Cony (PCdoB).
Texto: Claudete Barcellos (reg. prof. 6481)