CPI da Telefonia

Efeitos de radiação de celular sobre saúde dividem opiniões

Álvaro Salles (d) alertou sobre prejuízos das radiações à saúde humana Foto: Cristiane Moreira
Álvaro Salles (d) alertou sobre prejuízos das radiações à saúde humana Foto: Cristiane Moreira

Dois pesquisadores com ideias opostas sobre os efeitos das radiações emitidas por antenas e celulares sobre a saúde foram os convidados da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Telefonia da Câmara Municipal de Porto Alegre nesta quinta-feira (22/8). O professor da Ufrgs e engenheiro Álvaro Salles disse que são pouco conhecidas as consequências das radiações não-ionizantes e sugeriu o uso racional de celulares e de suas estações (antenas). O engenheiro e professor da PUC-RJ Gláucio Siqueira afirmou que, se há riscos e 90% da população mundial usam celular, teria havido aumento do número de casos de câncer. Segundo ele, a página da Organização Mundial de Saúde (OMS) na Internet mostra que esse avanço não ocorreu.

Alvaro Salles disse que pesquisas científicas revelam que até os chamados efeitos de baixo nível (não-térmicos) das radiações não-ionizantes podem causar danos aos tecidos celulares quando há exposição prolongada, como de seis a oito horas/dia. Alertou que estão vulneráveis as pessoas que passam muitas horas em ambientes com redes wi-fi e próximas a Estações de Rádio-Base (ERBs), por exemplo. De acordo com o professor, as normas internacionais de telefonia consideram somente os efeitos de curta duração (agudos). “Elas são inadequadas para proteger a população”, alertou.

Como atestou Salles, pesquisas evidenciam que, mesmo com baixo nível de exposição, pode haver quebra das moléculas de DNA e danos ao cérebro, que provocam em tumores. Garantiu que a OMS considera possivelmente cancerígenas as radiações não-ionizantes e defende a precaução. “Mas resoluções da OMS são tratadas com desdém pelos governos e pelas operadoras”, disse, citando ainda que, em Porto Alegre, menos de um terço das 722 ERBs são licenciadas.

Salles afirmou que os efeitos das radiações diminuiriam muito se as pessoas usassem mais o telefone fixo quando disponível, evitassem utilizar celular colado à cabeça, optando por fones, e trocassem o wi-fi por redes a cabo. “Nesse caso, a distância é nossa amiga”, declarou. Propôs ainda que leis impeçam a fabricação de celulares com microfone e alto-falantes e que seja promovida campanha sobre os riscos das radiações e formas de reduzir a exposição.

Salles criticou as operadoras de telefonia por quererem revogar a legislação atual. “Não é preciso revogar a lei para melhorar a qualidade dos serviços”, disse. Lembrou que a norma de Porto Alegre leva em consideração o princípio da precaução sobre danos à saúde. “Os efeitos são demorados, mas se manifestam”, afirmou, e criticou a intenção de instalar os sistema 4G com uma frequência de 2,4 Gigahertz, quando os EUA utiliza 700 Megahertz.

Contraponto

Gláucio Siqueira rebateu as afirmações de Salles, lembrando que é professor, engenheiro de telecomunicações, matemático e doutorado na área de radiação sobre a saúde. De acordo com ele, as resoluções da OMS citadas por Salles não se baseiam em fatos novos. “Nada mais são do que um alerta à comunidade cientifica para continuarem as pesquisas”, disse. “A OMS não admite a carcinogênese da radiação não-ionizante. Isso não existe. A maior parte das pesquisas aponta em sentido contrário.”

Siqueira criticou as recomendações de Salles. Na sua opinião, é inviável deixar de usar  celulares e redes wi-fi. Atestou que os aparelhos emitem “níveis ridiculamente baixos de radiação”. Também garantiu que seus alunos mediram os níveis de radiação de antenas e constataram que são baixos da mesma forma. “E não existe outra maneira de melhorar os serviços além de aumentar o número de antenas”, acrescentou.

A opção pela versão de 2,4 GigaHertz para o 4G, de acordo com Siqueira, deve-se a uma questão de disponibilidade de área. “A área de 700 MegaHertz está lotada para outros serviços”, disse. Ainda alertou que “há pesquisas boas e ruins” e que estudos citados por Salles “são fracos”. Por fim frisou: “A telefonia celular mudou o mundo. Deu mais segurança. Não existe razão para culpar o celular por tudo”. Siqueira também reafirmou que não tem vínculos com operadoras de telefonia.

Prorrogação

O presidente da CPI, vereador Cláudio Janta (PDT), agradeceu aos palestrantes e anunciou que foi solicitada a prorrogação da comissão por mais 60 dias. A intenção é ouvir novamente a Anatel, tendo sido definido chamar o presidente nacional da agência. O vereador anunciou que, na próxima reunião, estarão na Câmara representantes de duas operadoras.

Além de Janta, participaram da reunião de hoje os vereadores Engenheiro Comassetto (PT), Lourdes Sprenger (PMDB), Mário Manfro (PSDB), Jussara Cony (PCdoB), Fernanda Melchionna (PSOL), Elizandro Sabino (PTB) e Delegado Cleiton (PDT).

Texto: Claudete Barcellos (reg. prof. 6481)
Edição: Carlos Scomazzon (reg. prof. 7400)